quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nem pensar



Sempre quis ter um cão mas cá em casa a entrada de animais de estimação era completamente proibida e sempre que falava nisso a minha mãe dizia-me 'mas tu tens um cão, aquele peluche, finge que é de verdade'. Óbvio que ficava irritada, amuada, e começava logo a fazer birrinha e argumentar as vantagens que seria ter um animal de estimação. Após um árduo esforço da minha parte a minha mãe respondia-me 'então vamos comprar um peixe'.
Eu queria lá agora um peixe. Para que é que serve um peixe? Mas, pronto, não reclamava, sempre era melhor do que não ter nem cão, nem peixe.
Ia toda contente comprar o tal peixe quando vi um que adorei, lindo, lindo, lindo, mas que não sei se foi o preço ou outra razão qualquer que não agradou à minha mãe que depressa me disse impaciente 'escolhe outro'. Pronto, está bem. Escolhi, decidida, outro. Para a minha mãe continuava a não estar bem.
Já me sentia um pouco chateada com aquela situação, primeiro diz-me para escolher e todos os que eu escolhia não serviam!
E enquanto debatia um problema interior, ela chama o senhorzinho da loja e escolhe um peixe da coisa mais simples que há.
Eu nem queria aquele peixe, não gostava dele e ela fez questão de o trazer. Mas eu já sabia que nem valia a pena reclamar, o mal já estava feito.
Inocência das inocências, eu tentava brincar com o peixe mas ele não me gramava mesmo nada.
Quando cheguei a casa, depois de tudo preparado para o peixinho viver bem e feliz, quando a minha mãe foi para a cozinha fazer o jantar, dei-lhe comida.
Vejo o peixe a atacar logo a comida e num instante já não havia qualquer vestígio da mesma.
Senti-me feliz 'o peixe comeu num instante a comida que lhe dei, deve estar cheio de fome' e é então que uma ideia luminosa me assombra e decido dar-lhe ainda mais comida. Ele lá comeu aquilo tudo de uma vez.
Antes de dormir, pensei 'deve estar com fome'. Fui lá dar-lhe novamente comida.
No outro dia acordo a pensar 'tenho de lhe dar comida, deve estar cheio de fome' e qual não foi o meu espanto quando já não há peixe. Quer dizer, haver havia, mas estava a boiar e saltavam-lhe fezes por todo o lado, até pelos olhos (sim, estes já nem estavam lá).
Fiquei horrorizada. A minha mãe prontamente me perguntou se lhe tinha dado muita comida, os peixes só comem uma vez por dia e é pequenas quantidades e bláblá.
Nem consegui falar, sentia-me uma assassina de peixes.
Passado um dia já nem me lembrava do sucedido.
Ainda voltei a ter, mais tarde, mais dois peixes. Em que o máximo de duração de um deles foi de quatro dias. Não sei como, nem porque, morrem todos depressa.
Hoje a minha mãe, na brincadeira, perguntou-me se não gostaria de ter novamente um peixe. Que horror!
Peixes? Nunca mais. Bichos feios. Madiltos!

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